Nota de Abertura – Anuário 2021

A proatividade da Indústria da Alimentação Animal

Se o ano de 2020 foi marcado pelas graves consequências socioeconómicas da COVID-19, mostrando, ao mesmo tempo, a notável resiliência da cadeia da alimentação animal, ainda não libertos da pandemia, com novos confinamentos, restrições no canal HORECA e limitados no turismo, o ano de 2021 foi caracterizado por novos constrangimentos mas igualmente novos desafios que vamos ter de enfrentar, consolidando, à escala europeia e global, uma agenda verde, de sustentabilidade e de combate às alterações climáticas, a par de preocupações acrescidas com o bem-estar animal e os sistemas alimentares sustentáveis.

Consequência das compras efetuadas pela China, de stocks reduzidos no mercado mundial, de diminuição ou escassez de algumas matérias-primas como a colza ou o girassol, da subida dos preços do petróleo, dos fretes marítimos ou dos contentores, aliado à paragem de algumas unidades de fabrico exportadoras, sobretudo na China, durante o primeiro semestre do ano, os micro e macro ingredientes registaram aumentos entre 50 a 60%.

Os grandes destaques de 2021 foram certamente a robustez dos planos de vacinação, essencial para restabelecer a confiança e o regresso à normalidade possível, o acordo sobre a reforma da PAC e a aprovação dos Planos de Recuperação e Resiliência, em que o ambiente, a mobilidade e o digital serão centrais para o desenvolvimento futuro de Portugal e da Europa. Agora com o apoio da nova Administração Biden, sobretudo ao nível das metas que tinham sido definidas pelo Acordo de Paris e dos Objetivos de Sustentabilidade das Nações Unidas, a União Europeia parece querer liderar este caminho a uma escala global, perante um novo posicionamento geoestratégico.

Por outro lado, prosseguiu a agenda prevista no âmbito do Pacto Ecológico Europeu e a Estratégia “Do Prado ao Prato”, incorporada na nova PAC e nas políticas de Desenvolvimento Rural, foi aprovada uma Lei do Clima, discutiu-se a desflorestação, lançada a iniciativa “Fit for 55”, com metas mais ambiciosas para 2030, tendo como objetivo atingir a neutralidade carbónica em 2050, enquanto as Nações Unidas dedicaram uma Cimeira em setembro aos sistemas
alimentares sustentáveis, com o objetivo de definir uma resposta comum no plano mundial.

Para além da reforma da Organização Mundial do Comércio, a Comissão Europeia está igualmente empenhada na revisão dos acordos comerciais, introduzindo os temas do ambiente e da sustentabilidade. A própria PAC ganhou uma dimensão social que não tinha e que não deixará ter implicações, reforçando-se igualmente a componente ambiental com os chamados eco regimes.

Estudos de impacto já conhecidos, nomeadamente sobre “O Prado ao Prato”, nacionais ou a nível europeu, concluem que poderemos reduzir produção agrícola, capacidade produtiva e aumentar os preços dos alimentos. Maior dependência e redução da capacidade exportadora, numa altura em que as exportações nacionais e europeias do agroalimentar demonstraram incrementos importantes, alavancadas por produtos de origem animal, seja os animais vivos e carne de porco em Portugal, ou a carne de porco na União Europeia para o mercado chinês.

Uma tendência que se desenha para alguma redução no consumo de carnes nos países mais desenvolvidos, às vezes sem quaisquer bases científicas e baseadas em notícias falsas, com o crescente número de veganos ou vegetarianos, exigem uma atitude proativa da parte da indústria da alimentação animal e essa também foi uma marca de 2021, com mais e melhor comunicação.

A Carta de Sustentabilidade da FEFAC, que a IACA assinou em 2020, cumpriu o seu primeiro ano e foi elaborado um relatório de monitorização, para além do Guia de abastecimento de soja responsável, enquanto em Portugal o FeedInov é uma realidade, no qual estamos a trabalhar com a Administração Pública no impacto da alimentação animal na redução das emissões de gases com efeito de estufa, explorando cada vez mais uma alimentação de precisão. Os alimentos medicamentosos, a economia circular e a gestão de efluentes pecuários são outras das preocupações. Desenvolvemos ainda manuais e estudos sobre diferentes temáticas que vão apoiar as empresas na melhoria da segurança alimentar, nutrição e sustentabilidade no âmbito do Projeto SANAS, lançando o I Fórum da Alimentação Animal.

Perante todos estes desafios vamos necessitar de inovação e de investigação para encontrar alternativas de soluções nutricionais, seja com novos aditivos, nutracêuticos ou matérias-primas como os insetos, algas, proteaginosas ou outras, que permitam responder aos desafios societais, sem esquecer que temos de manter todas as opções de importação em aberto.

A União Europeia tem de ser igualmente coerente no que respeita às novas tecnologias, desde logo a aprovação das Novas Técnicas Genómicas, sem as quais não será possível assegurar a normalidade das importações, e produções agrícolas em níveis competitivos e que permitam atingir as metas definidas no “Prado ao Prato”.

Como ficou patente na Assembleia-Geral da FEFAC de junho, nos discursos do Comissário Agrícola e na Ministra da Agricultura, na qualidade de Presidente do Conselho, a Alimentação Animal é parte da solução para uma atividade pecuária mais sustentável, resiliente e competitiva.

A conjuntura é desafiante e teremos certamente um papel importante a desempenhar, mas precisamos de políticas públicas que reconheçam a relevância do Setor e de toda a Fileira, o contributo da atividade pecuária no equilíbrio do território, dos solos e da paisagem, para a redução das emissões e dos produtos de origem animal na nossa alimentação. A dieta mediterrânica é um excelente exemplo.

Se os aspetos sociais e ambientes são centrais nesta estratégia de recuperação e desenvolvimento no pós-pandemia, não podemos ignorar que o ambiente económico é decisivo para manter as empresas viáveis e competitivas, sem o qual a sustentabilidade pode ser uma verdadeira miragem.

Continuaremos numa linha de proatividade comunicando, com dados científicos, o que já fizemos e queremos fazer, em prol de um desenvolvimento sustentável da Indústria da Alimentação Animal.

José Romão Braz
Presidente da IACA

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