Nota de Abertura – Anuário 2017
ANUÁRIO IACA: A força da comunicação
Há menos de 30 anos, bem distante da Internet, das redes socias e dos “smartphones”, os meus antecessores davam início a um sonho: a IACA deveria ter um meio de comunicação, um “porta-voz”, para amplificar e projetar as mensagens e os pontos de vista da Indústria de Alimentos Compostos para Animais.
Já na altura se editava a Informação Semanal, a informação e comunicação com os associados estava assegurada, mas havia que comunicar “para fora”, para a opinião pública, parceiros, a montante e jusante da nossa Indústria, com a Administração Pública e decisores políticos. Tiveram deste modo o engenho e arte de antecipar a importância e a força da comunicação, percebendo, dada também a entrada na então Comunidade Económica Europeia, as transformações da Sociedade.
A IACA tinha de assumir um maior papel na divulgação da sua actividade e dos seus interesses, corporizando, através de uma publicação, a Missão de formar e informar.
Nasceu assim a “Alimentação Animal”, um projeto pioneiro e inovador, com o apoio dos Associados, anunciantes, parceiros – organizações associativas, empresas e Instituições – dos sucessivos dirigentes da IACA e dos colaboradores incansáveis e de grande qualidade que serviram e continuam a servir esta Instituição.
Uma Revista que, a avaliar pelos testemunhos que publicámos na edição 100, que celebrámos em 2017, representa uma referência, soube adaptar-se aos novos tempos, foi-se transformando e transformou, deu a conhecer os problemas e estrangulamentos, as vitórias, as tristezas, as posições e soluções para os diferentes dossiers. Uma informação plural, livre e aberta, incluindo aqueles que não pensam como nós e que também são importantes para influenciar os nossos caminhos e estratégias. A “AA” tem sabido reproduzir, com fidelidade, a história da Indústria da Alimentação Animal em Portugal e o que perspetivamos no futuro, perante os desafios: da Sociedade e da Comunicação.
Em 1990, foi lançado o Anuário IACA, uma publicação anual que continuamos a produzir e que também tem projetado a Associação e as empresas associadas, a nível nacional e no plano internacional.
Desde então, tudo mudou.
Muitas transformações eram impensáveis na altura, algumas delas aceleradas, quer pelas crises (alimentares, sanitárias, de mercado), quer pela globalização e pelo mundo digital, pelas redes sociais. Vivemos hoje um tempo de particular instabilidade e imprevisibilidade, muitas vezes sem referências ou memórias do passado, de grande interação de comunicação e ao mesmo tempo de isolamento. Onde tudo é escrutinado, todos somos “opinion makers” ou comentadores de serviço, os media promovem estes espaços públicos de opinião, em nome da liberdade e da sociedade civil.
Não raras vezes o ruído e a contestação pública, ignorando-se a ciência, também ela muitas vezes marcada pelas diferenças de opiniões, são os motores das alterações legislativas, sem que os impactos para os Setores ou a exequibilidade das medidas tenham sido equacionados.
Muitas vezes o politicamente correto, só porque as sondagens de opinião assim o ditam, promoveu (promove?) quadros legislativos impossíveis de praticar, com a consequente perda de competitividade porque o mercado as não remunera e os políticos não têm a coragem de exigir essas mesmas imposições às importações de Países Terceiros.
É certo que temas como o bem-estar animal, a segurança alimentar, a proteção ambiental e as alterações climáticas, a gestão eficiente de recursos, a redução dos antibióticos e a sustentabilidade, são ganhos civilizacionais e preocupações aceites pelos consumidores que tudo querem, mas não estão disponíveis para pagar mais, e até desconhecem que os produtos importados não têm exatamente as mesmas regras (e custos) dos congéneres europeus. Esta é a primeira grande incoerência de Bruxelas, que tem de ser rapidamente alterada, numa altura em que se incentivam os acordos comercias. Outras contradições prendem-se com interesses e satisfações dos consumidores, assentes na moda, na opinião publicada ou na má-comunicação e os exemplos multiplicam-se seja no leite, na carne, nos ovos, em que apesar das evidências e estudos, estes produtos continuam a ter uma imagem relativamente negativa. A obesidade e a diabetes são, de facto, problemas sérios e os culpados, desde logo, são os alimentos, a gordura, o sal, o açúcar, sem se ter em linha de conta que não existem bons ou maus alimentos, mas dietas e estilos de vida que são profundamente errados.
Porque vivemos de perceções e de opiniões, voláteis, temos hoje uma excelente oportunidade de mudar o atual estado de coisas, mostrando como fazemos a alimentação animal, as preocupações que temos com os consumidores, a importância dos produtos animais na saúde humana, os compromissos que assumimos em diferentes áreas, com particular destaque no bem estar animal, a segurança alimentar e a proteção e respeito pelo ambiente. Mostrar que queremos ser sustentáveis, mas que essa sustentabilidade passa pela componente económica, ambiental e social. Que podem confiar e acreditar em nós. Que somos uma Indústria responsável e que na fileira da alimentação animal todos partilhamos os mesmos valores e objetivos.
Numa altura em que importa mais ser proactivo e menos reativo, mais do que informar, nunca foi tão necessário comunicar, trabalhar em conjunto, com transparência e verdade.
Afinal, à frente do seu tempo, estavam certos os que lançaram há 27 anos a Revista “Alimentação Animal” e o Anuário IACA, tão atuais e presentes nos seus objetivos. Talvez mais do que nunca!
Cristina de Sousa
Presidente da IACA (2012-2017)