Nota de Abertura – Anuário 2023

Soluções da Indústria para uma Fileira mais Sustentável

Com um novo Board liderado por Pedro Cordero, e um Mandato na FEFAC que se iniciou em 2023 e que se prolonga até 2026, os tempos que se avizinham, até pela incerteza, pelas tensões mundiais entre blocos e a consequente imprevisibilidade, serão certamente muito desafiantes.

De qualquer modo, sejam mais ou menos restritivas as políticas e regulações a que estamos sujeitos – e aqui é sempre importante que essas regras sejam equivalentes nas importações de produtos provenientes de países terceiros – com maiores preocupações ambientais, de sustentabilidade e de modelos de governação, as prioridades da Indústria, quer a nível europeu, quer nacional, prendem-se com as Estratégias nutricionais para a melhoria da sustentabilidade em produção animal.

O caminho para a neutralidade carbónica em 2030, que é uma aposta europeia sem paralelo a nível global, não é fácil de concretizar e mesmo que o façamos, para além dos custos que os consumidores e a sociedade terão de aceitar, teremos de o comunicar de forma eficaz e convincente, mostrando e demonstrando, com dados concretos e baseados na Ciência. Com transparência, de uma forma credível e responsável.

No entanto, temos de considerar a realidade geopolítica e geoestratégica do mundo atual que tanto impacta o nosso dia-a-dia, bem como dos centros de decisão em Bruxelas (Comissão, Conselho e Parlamento Europeu), mais especificamente com a perda de peso político da DG AGRI para as DG SANTE e DG ENVI.

A saúde e o ambiente, as alterações climáticas (colapso climático?), dominam a agenda política e mediática, deixando a agricultura e a agroindústria como um “parente pobre” do desenvolvimento económico da União Europeia. A segurança alimentar em termos de disponibilidade de alimentos, parece ter passado para um plano secundário, depois do protagonismo e da relevância decorrentes da COVID-19 e do início do conflito na Ucrânia, ainda que todos reconheçam a enorme resiliência do Setor.

Apesar da realidade do Pacto Ecológico Europeu, da Estratégia do Prado ao Prato e as implicações do combate cego à desflorestação e possível impacto no regular abastecimento de oleaginosas à Europa, tanto em quantidade como a preços competitivos, a verdade é que parece haver uma luz ao fundo do túnel no que se refere à possível revisão de algumas das metas inverosímeis e inalcançáveis, numa altura que a própria FAO, que também não é reconhecida por posições muito próximas do nosso setor e com posições muitas vezes sem considerar a realidade, teve um assombro de realismo e chamou a atenção para que as políticas de sustentabilidade não deverão sacrificar a segurança alimentar no seu sentido de disponibilidade de aprovisionamento a preços justos e acessíveis às populações.

Assim, relembramos a Carta de Sustentabilidade da FEFAC já de 2020 e desde a primeira hora subscrita pela IACA, cujo 3º Relatório de progresso foi apresentado em junho passado no 30º Congresso FEFAC realizado em Ystad na Suécia, no qual tive a oportunidade de participar e testemunhar a elevada qualidade de algumas das apresentações.

Não é demais reforçar a importância fundamental e o equilíbrio nos três pilares da sustentabilidade – ambiental, social e económico -, pois sem empresas viáveis e devidamente capitalizadas, não há política de sustentabilidade que sobreviva.

É, pois, neste cenário que temos de nos concentrar em trilhar um caminho de colaboração para nos conseguirmos afirmar como parte da solução.

Não posso deixar de referir o FeedInov, o Laboratório Colaborativo do nosso setor, e cada vez mais se afirma como uma voz independente e reconhecida cientificamente para nos ajudar nas estratégias nutricionais para a melhoria da sustentabilidade da produção animal.

É fundamental que todas as nossas empresas apresentem Relatórios de Sustentabilidade tendo por base os GRIs e se preparem para o reporte obrigatório que chegará dentro de poucos anos.

A Inovação para a Sustentabilidade deve ser, nesta perspetiva, a bússola da Indústria para os próximos anos, para que seja possível mostrar aos decisores políticos, de uma forma inabalável, sem alguma dúvida, que somos parte da solução.

Esperemos que com uma nova Comissão e um novo Parlamento Europeu, seja possível recuperar a dimensão do agroalimentar e o seu papel de alavanca económica, de preservação da biodiversidade, do equilíbrio do Mundo Rural e da sua multifuncionalidade, como algo assumidamente estratégico para a União Europeia.

José Romão Braz
Presidente da IACA

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