Rumo ao Futuro

Se já sabíamos a importância da cooperação, da investigação, inovação e desenvolvimento para o nosso futuro coletivo, a pandemia COVID-19 veio demonstrar que só podemos resistir se trabalharmos em conjunto e com objetivos comuns.

A resiliência do abastecimento da cadeia agroalimentar e muito em particular do setor da alimentação animal, sobretudo durante a fase do confinamento, só foi possível porque desde os fornecedores até aos clientes, sem esquecer as autoridades oficiais, nacionais ou europeias, que colaboraram em desbloquear muitos obstáculos, em condições profundamente adversas (todos nos lembramos por exemplo de Ovar, com o cordão sanitário) tiveram sempre como foco a necessidade de nunca parar e permitir que as nossas empresas continuassem a alimentar, com qualidade e segurança, os milhões de animais existentes em Portugal, quer para a produção de produtos de origem animal (carne, peixe, leite e ovos), quer para os animais de companhia. Agora, neste tempo de reconstrução e de nos reerguermos, num cenário de grande incerteza, instabilidade, e de uma profunda crise económica, social e sanitária, não só em Portugal, mas também na União Europeia e em todo o mundo – é colocada em causa a normalidade das nossas empresas, das trocas comerciais e das nossas vidas – mais do que nunca, a ciência, a partilha de informações, a construção de uma narrativa e de um roteiro com objetivos comuns, tendo em vista a reconstrução da economia, o assegurar da competitividade das empresas e o futuro do País no pós COVID-19, sem os erros do passado, deve ser o desígnio de todos.

Numa altura em que é conhecida a Agenda para 2030 – com particular ênfase no Pacto Ecológico Europeu e nas estratégias sobre a “Biodiversidade” e “Do Prado ao Prato” – os principais objetivos da reforma da PAC , os principais fundos europeus, seja no quadro da PAC, da coesão, do quadro financeiro plurianual ou da recuperação e resiliência, sabemos que a utilização das verbas terá como principal prioridade o combate às alterações climáticas, o que inclui o reforço da utilização das energias renováveis, a redução das emissões de GEE e da utilização de antibióticos, bem como a intensificação da mobilidade verde e da digitalização. No fundo, o relançamento de uma economia mais amiga do ambiente, com metas e objetivos ambiciosos à escala europeia, sem paralelo a nível mundial, de forma a não comprometer a posição da União Europeia no abastecimento global e torná-la o primeiro continente a atingir a neutralidade carbónica em 2050. Ser inclusivo, não deixando ninguém para trás neste processo de transição para uma economia verde é um chavão, mas tal só acontecerá com fortes apoios, canalizados para a inovação, investigação e desenvolvimento.

Conhecidos os ataques continuados à produção e consumo de bens de origem animal, e conscientes de que não poderão existir sistemas alimentares sustentáveis sem as atividades pecuárias, pelo seu impacto no equilíbrio e desenvolvimento do território e como travão ao abandono e desertificação do Mundo Rural, não nos resta outro caminho que não seja a aposta na comunicação, com dados científicos comprovados e com compromissos claros da parte da Fileira nas principais questões que se colocam hoje aos consumidores e às sociedades modernas: a saúde e bem-estar animal, a mitigação dos impactos no ambiente e a redução da pegada ecológica, com uma produção sustentável e mais eficiente na utilização dos recursos.

Aqui chegados, nunca é de mais relembrar que a sustentabilidade tem de ser equilibrada nas suas componentes ambiental, social e económica porque precisamos de empresas viáveis e competitivas para que Portugal se afirme no espaço europeu e mundial. Sem demagogias ou populismos e com políticas coerentes.

Nesta perspetiva, precisamos de tecnologia e do conhecimento para atingirmos estes objetivos e para reinventarmos um modelo de cooperação ativa, com base na ligação entre as empresas, as unidades de investigação e a academia. Os Laboratórios Colaborativos, com apoios da União Europeia e da FCT permitem corporizar esse novo modelo. A criação do FeedInov é um exemplo disso. O Laboratório Colaborativo que irá estudar estratégias de alimentação inovadoras para uma produção animal sustentável, vai dar resposta às preocupações das empresas e à definição de estratégias para lidar com os desafios e as tendências que se desenham, mostrando que o Setor é parte da solução. Neste projeto a IACA, em parceria com mais 18 entidades, pretende fazer na EZN um polo de excelência da investigação em nutrição e alimentação animal. É mais um passo no historial da IACA e uma estratégia que, tal como o QUALIACA ou as ações de formação, os eventos ou os manuais, queremos que sejam estruturantes e aceleradores de mudança. Ao serviço de toda a Fileira da Alimentação Animal.

Pelo potencial que representa, o FeedInov é o corolário das oportunidades que não podem ser desperdiçadas.

Rumo ao Futuro!

José Romão Braz
Presidente da IACA