Comunicação na Fileira Agroalimentar: Informar para Desmistificar
A indústria agroalimentar enfrenta atualmente diversos desafios de comunicação, devido às preocupações públicas relacionadas com o bem-estar animal, a sustentabilidade ambiental e a segurança alimentar. A era digital trouxe consigo tanto oportunidades quanto desafios para a comunicação: por um lado, as organizações podem agora alcançar um público mais amplo e diversificado, aproveitando a instantaneidade e o alcance global das plataformas digitais; por outro lado, enfrentam uma responsabilidade acrescida em garantir que a informação divulgada é precisa e fiável. Num mundo onde a desinformação prolifera e as fake news ganham força, é crucial manter uma comunicação transparente e baseada em ciência, que aborde convenientemente as preocupações de todas as partes interessadas e que construa uma ponte de confiança entre a indústria e os consumidores. O evento da IACA, realizado a 8 de maio, destacou essa necessidade e refletiu sobre a importância de uma comunicação sólida e bem fundamentada. Numa mesa-redonda que deu voz a diferentes perspetivas e abordagens, foi sublinhado que todos aspiramos a um planeta mais sustentável e que, para tal, é necessário equilibrar a sustentabilidade ambiental com a capacidade de produção de alimentos, sem comprometer a competitividade das empresas e a segurança alimentar.
Para alcançar esse objetivo, é fundamental investir continuamente em inovação e no desenvolvimento de novas soluções mais sustentáveis. Neste âmbito, um tópico particularmente relevante diz respeito à “proteína do futuro”, onde as tendências emergentes incluem a utilização de proteínas animais hidrolisadas (derivadas de coprodutos) e a introdução de ingredientes à base de insetos. Estas representam fontes ricas em proteína, altamente nutritivas e com atividade funcional relevante, ou seja, com benefícios para a saúde dos animais. Estas abordagens não só diversificam as fontes de proteína disponíveis, como também podem contribuir significativamente para a redução da pegada ambiental associada à alimentação animal, nomeadamente quando a sua produção está assente em práticas eficientes e em cadeias de valor locais. Da mesma forma, a utilização de tecnologias emergentes pode desempenhar um papel crucial na promoção da sustentabilidade do setor. Por exemplo, tecnologias como a inteligência artificial e a biotecnologia permitem otimizar processos de produção, reduzindo o consumo de recursos naturais, minimizando a geração de resíduos e melhorando a eficiência alimentar dos animais. Desta forma, é possível não apenas aumentar a produtividade e a rentabilidade para os produtores, mas também mitigar impactos ambientais negativos, assegurando uma produção sustentável e responsável a longo prazo.
Todos estes avanços devem ser comunicados ao público de uma forma clara e acessível, utilizando suporte científico adequado, por forma a desconstruir mitos e a garantir que os consumidores compreendem e aceitam a adoção destas soluções. Esta comunicação deve ser contínua e proativa, utilizando múltiplos canais de informação para alcançar diferentes públicos-alvo. A educação do consumidor é um elemento-chave neste processo, uma vez que consumidores bem informados estão mais propensos a apoiar práticas sustentáveis e a tomar decisões de compra conscientes. Essa comunicação deve ser uma responsabilidade partilhada por todos os intervenientes do setor, que devem colaborar para o fornecimento de dados e informações necessárias para suportar as posições que defendem.
Em suma, o futuro da comunicação na fileira agroalimentar reside na capacidade de inovar e adaptar-se às novas realidades. Projetos colaborativos que educam e promovem a partilha de conhecimentos para desmistificar ideias pré-concebidas sobre o mundo rural e a produção alimentar, são cada vez mais necessários e importantes numa comunicação pública, que se quer credível e baseada na ciência. O sucesso na comunicação não se mede apenas pela disseminação de informações, mas também pela capacidade de ouvir diferentes perspetivas e incorporar feedback construtivo. É por isso importante gerar um debate positivo e inclusivo na sociedade civil, numa ótica de atitude colaborativa, que será certamente importante para que a indústria possa responder eficazmente aos desafios globais e contribuir para um sistema alimentar mais saudável, responsável e sustentável. Esta atitude será determinante para moldar o futuro da indústria agroalimentar e garantir que esta continue a evoluir em harmonia com as necessidades ambientais e sociais do nosso tempo.
António Isidoro
Diretor-Executivo da IACA