Que lições devemos retirar da COVID-19?
Já muito foi dito e escrito acerca dos impactos e das consequências que o atual cenário pandémico nos trará. Contudo, independentemente dos impactos sanitários e económicos globais, que são catastróficos e com uma dimensão ainda por apurar, já é possível refletirmos acerca das lições que podemos e devemos retirar.
Assim, interessa realçar, como não poderia deixar de ser, o reconhecimento do nosso setor como essencial, o que nos permitiu desenvolver a nossa atividade, sob rigorosos planos de contingência, mesmo durante o Estado de Emergência. Tal facto, demonstrou a capacidade das empresas do setor em manter o regular abastecimento aos seus clientes e estes a jusante, sem que o consumidor tivesse sentido qualquer tipo de limitação no acesso aos produtos de origem animal. É importante reconhecer a extraordinária resposta que o sector agroalimentar foi capaz de dar, reafirmando a sua vital importância económica e social. Sai reforçada a necessidade de continuarmos a apostar na autossuficiência alimentar, que pode ser determinante em momentos de crise em que cadeias logísticas possam ser afetadas.
No entanto, as questões ligadas à sustentabilidade e ao ambiente continuam na ordem do dia e muito provavelmente, considerando o horizonte 2030 e a Estratégia “Farm to Fork”, bem como o plano de recuperação da Comissão “Next Generation EU”, sofrerão uma pressão adicional para implementação e tomada de medidas concretas pelos vários intervenientes no setor alimentar. Assim, a visão 2030 da FEFAC partilhada pela IACA que assenta nos três pilares: Segurança Alimentar, Nutrição Animal e Sustentabilidade, continua atual e interessa reforçar a sua concretização, pois só dessa forma conseguiremos responder aos desafios que temos pela frente.
A Inovação e a Investigação serão fundamentais para a realização da visão 2030 e para tal o FeedInov será um instrumento fundamental para o setor em Portugal e uma medida concreta que demonstra o nosso comprometimento com as metas de um desenvolvimento sustentável. Não nos iludamos, apesar do setor agrícola, apenas representar cerca de 10% do total das emissões, já existem projeções que nos mostram que com as medidas previstas para os sectores dos transportes e produção de energia elétrica, a importância relativa da agricultura nas emissões globais tenderá a subir até 2050, pelo que temos de “pôr mãos à obra” para continuarmos a aumentar a eficiência alimentar e a sustentabilidade da nossa atividade.
A Alimentação Animal é uma história de sucesso, e se considerarmos a diminuição dos índices de conversão nas ultimas décadas, as projeções que temos disponíveis, a economia circular da qual somos designados, justamente, de “campeões”, uma visão de valorização dos efluentes gerados na pecuária e o contributo essencial para o Mundo Rural, temos de estar confiantes no papel que continuaremos a desempenhar para garantir a sustentabilidade do Planeta e dar uma resposta cabal para a importância da proteína de origem animal na garantia de uma alimentação para todos, considerando as previsões de crescimento da população a nível global.
Independentemente das alterações dos hábitos que os consumidores possam vir a demonstrar no período pós-covid e dos impactos que se fazem sentir no nosso país ao nível da redução do consumo via canal HORECA, os argumentos que apresentámos durante este período difícil e crítico da nossa existência, são sinais encorajadores quanto à resiliência e capacidade de adaptação da Indústria da Alimentação Animal em particular e do Setor Agroalimentar em geral.
O futuro pertence-nos!
José Romão Braz
Presidente da IACA