Artigo de opinião Eng. José Romão Braz

Escolher o que comer na sociedade ocidental é, entre outros aspetos, um ato político. Escolher o que financiar também.

A Alimentação deixou de ser unicamente uma commodity. Além de uma necessidade básica, a alimentação é, também, um símbolo social, um mote de socialização e, nos anos mais recentes, para alguns, passou a ser um ato político. Produzir a comida também. A publicação do Plano Nacional de Energia e Clima 2030 (PNEC) e a resposta do setor à situação pandémica que ainda vivemos, abrem campo para a esperança no que concerne à relevância reconhecida ao setor agroalimentar em geral, mas reforçam, igualmente, a necessidade das nossas reflexões.

O PNEC vem, factualmente, reconhecer que toda a agricultura representa unicamente 10% das emissões de CO2 produzidos em Portugal, uma demonstração da realidade que é, também, sinónimo do trabalho que temos vindo a implementar em prol da sustentabilidade ambiental. Por outro lado, sob rigorosos planos de contingência, durante o estado de emergência, este setor foi resiliente. As empresas do setor souberam adaptar-se de forma a que os portugueses não tivessem sentido limitações no acesso aos produtos de origem animal. Estas são as boas notícias, o que nos apraz registar, mas esperam-nos enormes desafios na próxima década.

As questões ligadas à sustentabilidade continuam na ordem do dia e, considerando o horizonte 2030, a Estratégia “Do Prado ao Prato” e o plano de recuperação económica da União Europeia, a pressão adicional para a tomada de medidas concretas pelos vários intervenientes no setor agroalimentar, em prol da sustentabilidade, não vai diminuir.

Nesta perspetiva, a inovação e a investigação serão fundamentais para a realização destes desígnios, nomeadamente para a concretização de projetos como o FeedInov, o laboratório colaborativo criado em Portugal para estudar estratégias de alimentação inovadoras para uma produção animal sustentável. Este é um exemplo do nosso comprometimento com as metas para um desenvolvimento sustentável. Não nos iludamos: apesar do setor agrícola, tal como reconhecido no recentemente publicado PNEC, apenas representar cerca de 10% do total das emissões de CO2, e de o mesmo estipular como meta de redução para a área da agricultura uma diminuição de 11%  até 2030, já existem projeções que apontam para o aumento do peso relativo da agricultura nas emissões globais até 2050, fruto das medidas previstas, algumas das quais financeiramente apoiadas, para os setores dos transportes e produção de energia elétrica. Atingir a neutralidade carbónica em 2050 vai exigir um enorme esforço de adaptação, para o qual são necessários financiamentos adequados e à altura das ambições.

Entre pares, a Alimentação Animal já é justamente denominada “a campeã da economia circular”.  De facto, mais de 30% das matérias-primas que utilizamos são coprodutos de outras indústrias, mas coloca-se agora um outro desafio: incorporar, ainda mais, a ciência no nosso dia-a-dia, nomeadamente aumentando a eficiência das rações para uma alimentação de precisão, que permita produzir menores emissões de GEE e de efluentes. Estará o próximo Quadro Financeiro Plurianual da União Europeia a acautelar devidamente as verbas para investigação e inovação necessárias para que isto aconteça? Escolher o que comer na sociedade ocidental é, entre outros aspetos, um ato político. Escolher o que financiar também.

A resiliência e capacidade de adaptação da Indústria da Alimentação Animal na fase de confinamento a que estivemos sujeitos reforçam o que sempre temos dito: fazemos, e queremos fazer, parte da solução!

Fonte: Observador