Hoje, no verão de 2020, alem da pandemia e da crise económica que já se instalou, na sociedade também se fala noutros assuntos, nos fogos, nos escândalos de corrupção…, mas também se continua a falar de tecnologia e de sustentabilidade ambiental, ao contrario do que inicialmente poderia parecer, a opinião pública e as instituições europeias, pouco ou nada mudaram o seu discurso, e sua opinião em relação a agricultura e aos agricultores, graças a estes nunca houve falta de alimentos, na europa a alimentação é um “dado adquirido” pelo que o sector é visto muitas vezes, não como fundamental pelo menos três vezes por dia para toda gente, mas como inimigo do planeta . As estratégias da “biodiversidade” e “do prado ao prato” foram apresentadas pela comissão europeia em maio, e, irão certamente implicar um enorme esforço aos agricultores e a sociedade para se adaptarem a estas “intenções”, que, na minha opinião são na sua maioria muito boas intenções.

Os objectivos principais do “Green Deal” e destas estratégias, vão no sentido da sustentabilidade ambiental, o nosso, enquanto agricultores também! Nisso estamos todos de acordo, ninguém mais que os agricultores, que vivem no campo e do campo, terá mais preocupações ambientais, não estaremos porventura de acordo, no caminho a adotar para atingir esse fim.

O modelo de “intensificação ecológica” pode ser uma solução, conseguir na mesma exploração practicar uma agricultura moderna e eficiente aliada a um modelo que fomente a biodiversidade, que leve em conta os serviços dos ecossistemas, os utilize de forma sustentável, e que promova o seu bom funcionamento.

A tecnologia e a digitalização têm aqui um papel fundamental, conseguir alimentar uma população mundial em crescimento, com o mínimo impacto ambiental, só se consegue com eficiência na utilização dos recursos. A tecnologia que hoje temos disponível, a preços cada vez mais económicos permitem que a sua utilização seja muito maior. Sondas de humidade, imagens de NDVI, VRT…, todas as estas ferramentas ajudam o agricultor na sua tomada de decisão, a tomar essa decisão com mais informação para que o resultado seja, produzir mais com menos.

Este é um caminho, que se tem feito de forma progressiva, mas terá de se aumentar a velocidade, o planeta assim o exige!

Agricultores e ambientalistas têm os mesmos objectivos, precisamos uns dos outros, é fundamental haver abertura e empenho de ambas as partes, porque, produzir alimentos e proteger o ambiente são, hoje, indissociáveis!

Espero que a próxima PAC leve em conta esta realidade, sendo que o ambiente tem cada vez mais influência nas decisões, e que nos forneça instrumentos de política para atingir os objectivos que todos queremos, mas sem radicalismos e sem colocar em causa o futuro da agricultura europeia.

Terão de ser estudadas e encontradas alternativas aos modos de produção, esse conhecimento começa a existir, mas ainda longe ser se tornar uma realidade global, Bruxelas não deve ceder ao facilitismo de impor metas, sem indicar caminhos viáveis de como as alcançar.

A PAC é o instrumento por excelência para mudar comportamentos, mentalidades e para cumprir os objectivos ambientais da comissão, da europa e do planeta

A Política pode e deve ser pedagógica, este é o momento para o ser!

José Pereira Palha
Agricultor
Presidente da direção da
ANPOC – Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais

Fonte: Agroportal