Revista: Nº 85 – 2013

Categoria: Revista

Data da Revista: 2013-09-30

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Índice

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Editorial

“Agricultura, Ambiente e Sustentabilidade”

Ao ser-me sugerido que redigisse um breve editorial, consagrado ao tema agricultura e ambiente, ocorreu-me prontamente aproveitar esta oportunidade para recordar e prestar uma singela homenagem a um dos mais ins

Esta deriva, em primeiro lugar, das qualidades humanas do Senhor Conde de Carnide, expressas discretamente na forma simples e generosa com que convivia com os que lhe estavam próximos e com a sociedade em geral, pensando bastante mais no bem-estar dos outros do que no dele próprio.

Em segundo lugar e mais directamente relacionado com agricultura e ambiente, importa recordar que o homenageado tomou a iniciativa de substituir o conforto de uma aliciante carreira de investigação, pela criação de uma empresa agro-pecuária norteada por dois objectos principais: produzir de modo eficiente alimentos de origem animal com vista à melhoria da dieta dos portugueses e, simultaneamente, defender da erosão e tornar produtivos solos delgados, pedregosos, muito declivosos e, portanto, vulneráveis à erosão.

Trata-se de temas que muito preocupavam o engenheiro Arriaga e Cunha. No plano ambiental, a erosão dos solos era considerada um grave problema nacional. Nesta matéria aconselhou-se com alguns colegas agrónomos – que tinham estudado a temática das pastagens na Austrália, com vista principalmente ao revestimento dos solos dos nossos montados -, tendo assim aplicado as melhores técnicas disponíveis na instalação e maneio de prados, utilizados simultaneamente na defesa dos solos e na alimentação dos bovinos leiteiros. Naquela época não se falava ainda de gases de efeito de estufa, nem de alterações climáticas, sendo que, tanto quanto é do meu conhecimento, a ocorrência destas alterações (designadamente por acção humana) não está ainda demonstrada cientificamente, não obstante ser diariamente objecto de notícias, bastando para o efeito que ocorra algures um tornado ou uma enxurrada. Todavia, a sociedade dedica às alterações climáticas bastante mais atenção e recursos do que aos fenómenos erosivos, sendo certo que estes se mantêm actuais e afectam a sustentabilidade da agricultura portuguesa.

No que concerne à produção eficiente de géneros alimentícios de origem animal – no caso vertente leite e carne -, o engenheiro Arriaga e Cunha actuou especialmente em duas vertentes: melhoramento genético e alimentação adequada de ruminantes. Conciliava o trabalho humilde do maneio dos prados e dos bovinos leiteiros com o estudo aprofundado das referidas matérias, o que lhe conferiu uma competência sólida e ímpar. No que ao melhoramento das vacas leiteiras diz respeito, adoptou uma orientação que divergia da preconizada então pelos serviços oficiais, procurando obter vacas altamente produtivas – porque mais eficientes em termos alimentares (e hoje acrescentaríamos, também mais amigas do ambiente).

A informação científica acerca destas matérias ainda hoje não se encontra suficientemente difundida e compreendida por muitos responsáveis, técnicos e decisores políticos, predominando os preconceitos românticos acerca das alegadas vantagens dos animais não melhorados e com baixas produtividades. A este propósito será útil ler alguns textos então redigidos, de modo muito claro, pelo agricultor Arriaga e Cunha (conforme modestamente se intitulava este Homem de notável craveira científica e alto estatuto social), bem como os artigos que mais recentemente o professor Arnaldo Dias da Silva não se tem cansado de publicar, demonstrando as vantagens – em termos ambientais, de eficiência alimentar e de competitividade – proporcionadas pelos bovinos leiteiros com elevado potencial produtivo.

A terminar e em decorrência natural do que precede, cumpre assinalar que a exploração agro-pecuária em apreço tornou-se um exemplo para empresários do sector leiteiro e uma escola para estudantes universitários; por seu lado, o seu criador representa uma referência como Homem de bem e Agrónomo de eleição.

Manuel Chaveiro Soares